Em outros artigos, já falei sobre a importância da crise da Covid-19 na transformação digital da área gastronômica, um setor de raízes tradicionais e valores do artesanato e do ‘savoir-faire’ dos profissionais de cozinha e salão. O Bonn App, com sua versão 2.0 chegando ao mercado em 2024, também é uma amostra de como os empresários do setor normalizaram o uso de aplicativos, códigos QR e publicidade paga na internet, utilizando suas contas no Google e em outras redes sociais. Outros métodos de publicidade mais tradicionais, como anúncios na TV, flyers impressos ou outdoors gigantes nas ruas, são considerados cada vez mais como empreendimentos não apenas caros, mas de retorno duvidoso. Essa transição do marketing tradicional para o digital é o que ficou conhecido como a Crise do Marketing Tradicional. Afinal, o marketing digital permite que as empresas comecem com pouco, analisem o retorno, efetuem mudanças e alterem estratégias em tempo real. Nada comparado à rigidez de um anúncio fixo e inalterável, que não permite testar, errar e redirecionar a mensagem ao público, nem ajustar sua frequência ou local de exibição.
Mas talvez hoje estejamos diante de uma nova crise do marketing, desta vez na esfera digital. Quem já anunciou na internet três anos atrás deve ter percebido um aumento significativo nos custos das campanhas. Se a crise da Covid-19 acelerou o processo de transformação digital, as vias de comunicação estão hoje mais saturadas do que nunca. E é claro que a área gastronômica é apenas um exemplo. Hoje, 55% dos consumidores brasileiros realizam a maioria de suas compras no comércio eletrônico, raramente adquirindo produtos presencialmente em lojas físicas. Isso não se deve apenas ao valor mais baixo dos produtos, mas também ao fácil acesso a uma grande variedade de ofertas na internet, prazos de entrega razoáveis e uma surpreendente facilidade nos processos de troca ou reembolso. A transformação digital deixou o marketing tradicional fora de jogo, mas ao mesmo tempo superlotou os espaços digitais, aumentou a concorrência para captar a atenção dos usuários e, como consequência, provocou um aumento nos preços. E, como se não bastasse, um estudo da Global Web Index em 2023 revelou que 42% dos usuários de internet no mundo usam bloqueadores de anúncios em seus dispositivos.
Durante os estudos de mercado realizados pelos fundadores do Bonn App, nos deparamos com essa problemática internamente. O retorno dos investimentos em marketing digital durante o desenvolvimento da ferramenta trouxe aprendizados interessantes. Nos ambientes e eventos de startups onde participamos nos últimos meses, encontramos comunidades de empresários que desejam criar canais próprios de comunicação, plataformas de intercâmbio de experiências e grupos de colaboração para divulgar seus produtos e soluções. Tudo isso porque, no âmbito das startups, não há, na maioria dos casos, orçamento para grandes campanhas de marketing, e menos ainda se não há nenhuma garantia de retorno. O medo do poço sem fundo vem crescendo e tira o sono de qualquer sonhador.
Nesse cenário, talvez o Bonn App esteja no lugar certo e no momento adequado. Reconheço que sempre tive certa dificuldade para explicar o conceito de rede social gastronômica, segmentada, que é ao mesmo tempo uma ferramenta de marketing para restaurantes, e onde não apenas o usuário não pode postar seus vídeos e imagens, mas também não pode realizar comentários de forma pública. Realmente, não tem sido simples elaborar descrições curtas e concisas. Mas, sob a ótica da crise do marketing digital, tudo faz mais sentido. Pode ser que a saída da crise seja possível, justamente, através da segmentação do conteúdo. Eliminar tanta propaganda e organizar a informação, transformando-a em conteúdo de valor real para quem está procurando um assunto específico. Separar o joio do trigo e encontrar o que realmente importa. E deixar de receber ofertas sobre um produto depois de comprá-lo, porque chega a ser absurdo receber publicidade de um artigo que já comprei!
O Bonn App tentou reunir todos os restaurantes em um só canal, e que, além disso, fosse oferecido a um preço muito competitivo, facilitando sua assinatura por parte dos restaurantes e promovendo um crescimento acelerado. Talvez este seja o lugar certo, o momento adequado e a bala de prata.
Veremos.
Isaac Martí – Fundador e CEO